longe do ninho

Dia desses minha cunhada, com quem eu falo quase todos os dias, me perguntou se era verdade que eu ia viajar. Respondi pra ela rindo, confirmando a informação. Fiquei pensando “como a Mari não sabia sobre a viagem?”. Claro que ela não sabia. Não contei. Não foi por falta de oportunidade, não foi por falta de entusiasmo, não foi nem uma escolha pensada. Eu apenas não falei e isso era estranho.

A viagem foi um convite, que despertou uma vontade, que virou uma oferta, que resultou num sim. Minha prima chamou, eu achei sem noção. O Fê achou possível, tive um delírio e concordei. Depois de comprada a passagem, em vez de planejar a viagem, eu só pensava em tudo que as crianças estariam fazendo e eu não estaria por perto. Não seria uma viagem em família. Eu pra um lado, eles pra outro. Tipo férias da maternidade, se é que isso existe. Menos de um mês e eu só conseguia pensar na mala deles. Não pode faltar roupa, protetor solar, o antialérgico… será que elas vão reagir à alguma coisa? As boias do Rafa. Conversar com ele sobre o mar, sobre ficar perto do pai, sobre como vou pensar nele em cada segundo que a gente estiver longe um do outro.

A pergunta da Mari me fez perceber que eu estava me boicotando. Sentindo uma  culpa que eu mesma, no discurso, abomino, mas na prática, não soube lidar. Se qualquer das minha amigas dissesse que viajaria e o filho ficaria com o pai, eu daria o maior apoio. Diria “vá, você merece esse tempo pra você”. Mas não fui capaz de enxergar que tenho essa mesma necessidade. Não de ficar longe deles, mas de ter um tempo só pra mim. Há semanas o Fernando me perguntava, “já fez seu roteiro”? Eu respondia que não e sentia o nó na garganta.

Uma semana. Insônia. A mãe de três estava covarde. Há seis anos que vivo a maternidade numa entrega plena e sem arrependimentos. Agora estou realinhando o olhar, pra enxergar 0 que eu sou além dos filhos e essa viagem talvez seja um passo prazeroso e necessário nessa redescoberta. Coração encolhido, ar passando em suspiros. Pensamentos com velocidade irregular e sem tempo verbal definido. Cabeça vai e volta, peito estufa e lá vem mais um suspiro.

Ter filhos é criar uma via de mão dupla, pra absolutamente tudo. Desde um carinho, até um dedo apontado. Conhecimento, inspirações, cuidado. É uma relação espelhada. Talvez a única que não tenha uma essência competitiva. Os frutos dela estão intrinsecamente ligados às pequenas decisões, tanto quanto às grandes. Tudo que eu desejo para os meus filhos, não pode ser diferente do que eu desejo para mim, mesmo que eles sejam prioridade. É isso que eu espero que eles entendam. Eu desejo a eles minha melhor versão e ela não é definida por todas as horas que passamos juntos, mas por aquilo que fazemos delas. Não é o que eu vejo quando me olho no espelho, mas quem eu sou quando minha cabeça encosta no travesseiro. No fim do dia, de todos os dias, eu serei mãe deles, não importa onde esteja o travesseiro (tem que ter um, porque não durmo sem). Não tem passo atrás, porque sou o que penso, e uma mulher plena é o principal requisito pra ser uma boa mãe. Vou apertar o coração, os olhos e o cinto. 

 

 

 

 

 

 

 

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